SIAL Paris: 10 tendências no setor de A&B

Que a gastronomia e a culinária francesas são referência no mundo todo, isso já é bem sabido. E para quem é empreendedor e precisa estar atento àquilo que é novidade, quase tão legal quanto saborear um bom prato ou beber uma bebida refrescante, é entender que tipo de conteúdo será tendência neste setor. Muito além dos ingredientes em si, comportamento consumidor, saúde, bem-estar e sustentabilidade, por exemplo, são alguns dos pontos que cada vez mais estão ganhando corpo como parte da receita de sucesso de quem trabalha no setor de Alimentos & Bebidas.

De Paris para o mundo 

E quem afirma tudo isso são profissionais do mundo inteiro, com base em pesquisa e novas experiências de consumo. Aqui no RS, o especialista no mercado de A&B do Sebrae RS, Roger Scherer Klafke, selecionou 10 tendências trazidas da última edição da Sial Paris (www.sialparis.com) para os empreendedores brasileiros ficarem atentos. De pequenas indústrias e propriedades agrícolas, até bares, restaurantes e hotéis,  os conteúdos podem fazer a diferença no paladar dos clientes – sempre eles – que têm sempre razão. 

Aprendizados & tendências 

1)  Timing é tudo – Observar tendências e colocá-las em prática é um exercício que parece simples, mas é carregado de dificuldades. Alguns empreendedores se animam com as novidades e esquecem do tempo de adaptação do mercado ao que é novo. É necessário respeitar características e comportamentos locais onde o seu negócio opera (região/cidade). É preciso entender as tendências e se preparar para as mudanças que estão por vir. Se fizer sentido, gradualmente adapte a empresa/produtos às novidades, no momento certo. A leitura com cautela é necessária para não chegar cedo demais e não encontrar ninguém ou perder o “trem” e se atrasar.  

Confira o episódio 75 do podcast Plano de Voô, do Sebrae RS, “De Paris ao RS: inspirações direto da maior feira de alimentos do mundo” para saber mais da SIAL Paris

2)  Saúde –  O principal direcionador da feira foi a saúde e a sua relação com os alimentos e bebidas. Novos produtos e serviços devem levar saúde ao consumidor. A partir deste direcionador, questões como a saudabilidade, imunidade, clean e clear label, orgânicos e plant based, ganham potência no mercado.  

3)  Alimento como remédio – No “guarda-chuva” da saúde e bem-estar, os produtos para a imunidade e longevidade em formato de bebidas e shots (pequenas doses de saúde) e em barras, com ingredientes funcionais, possuem destaque. Produtos sem adição de açúcar, conservantes, corantes artificiais e lançamentos focados no mercado “inclusivo” dos produtos sem glúten, lactose e outros, seguem atraindo a atenção e crescendo.  

4)  Ingredientes – a formulação dos produtos e as letras miúdas na lista de ingredientes preocupam o consumidor que está cada vez mais atento ao que está ingerindo. O consumidor está de olho nos ingredientes e cada vez menos aceita produtos artificiais ou desconhecidos na sua mesa.  

5)  Proteína animal e vegetal – O sabor e o prazer que o consumo da carne oferece é a principal razão para a preferência do consumidor. Segundo as pesquisas, mesmo preocupados com questões relacionadas ao bem-estar animal e sustentabilidade, a maioria prefere “carne de verdade”. Simultaneamente, crescem as opções e variedades de proteínas vegetais, as chamadas “plant based”. Agora, sem adição de insumos artificiais, com aparência cada vez melhor e com ótimo sabor, as proteínas vegetais se consolidam como alternativa à carne de qualidade, quando esta não estiver disponível, ou não for a preferência do consumidor.  

6)  Produtos locais – Conflitos internacionais, custo logístico e inflação, ampliam oportunidades para produtos locais. Com a atenção voltada para o desenvolvimento regional, questões sociais e o meio ambiente, pequenos produtores ampliam o protagonismo. Com a oferta de produtos mais frescos, sazonais e adaptados à cultura local, os consumidores passaram a valorizar ainda mais os pequenos produtores rurais e seus produtos. Cadeias de fornecimento curtas e a conexão “do campo à mesa” nas cadeias produtivas e seus elos, geram desenvolvimento regional e valor adicionado aos municípios.  

7)  Do prato ao campo – Como falei da conexão do “campo a mesa” reforço (ficou na primeira pessoa, acho que destoa do resto) que devemos estar atentos ao comportamento do consumidor e ajustar o “timing” de implantação de novos negócios ou produtos. A lógica e o fluxo de criação e desenvolvimento devem partir da compreensão do comportamento, do desejo ou dor do consumidor. A partir do consumidor, pensamos no que produzir, transformar, industrializar, embalar e devolver a ele. Parece simples, mas é um exercício constantemente esquecido.  

8)  Prazer – Saúde é o principal direcionador para o desenvolvimento de produtos, mas ao mesmo tempo o prazer e a satisfação gerada ao consumir o alimento seguem fundamentais. A gordura, o sal e o açúcar são os grandes vilões, mas não desaparecem e seguem como alternativa para o consumidor que eventualmente quer “chutar o balde”. O importante é não enganar o consumidor prometendo saúde e não entregando. Seja transparente, comunique a verdade e deixe o consumidor decidir. Produtos que entregam prazer e saúde levarão vantagem.  

9)  Ética – A preocupação com o meio ambiente, questões sociais, governança e sustentabilidade assumiram protagonismo no mercado como vemos na SIAL Paris. Redução de desperdícios, redução do uso de plástico e de embalagens não recicláveis, produção sustentável, upcycling, merecem atenção. Termos como ESG (práticas ambientais, sociais e corporativas de uma empresa) e CSR (responsabilidade social corporativa empreendedora) devem ser compreendidos e aplicados quando fizer sentido.   

10) Tecnologia – A tecnologia acessível oferece transparência, rastreabilidade e conhecimento ao consumidor de alimentos. Portanto, use a tecnologia a seu favor e se conecte com o consumidor, ajudando na sua tomada de decisão e facilitando o acesso dele a sua empresa/produto. Observe como é possível reduzir o atrito nesse processo de comunicação e venda e não omita informações sobre o seu negócio ou produto, o cliente vai perceber. 

Maratona por sabores e novidades 

A relação cada vez mais estreita entre saúde e alimentação pôde ser atestada na prática por Klafke de forma inusitada – e prática: o especialista percorreu nada menos que 80km durante os quatro dias da Sial Paris 2022. Liderando uma missão do Sebrae RS que levou 20 empreendedores do Estado, ele esteve à frente de uma série de visitas técnicas em empresas, incubadoras e foodtechs, interagindo com empresários, especialistas, pesquisadores e profissionais do ramo para transformar a experiência em fonte de conteúdo para novas estratégias e soluções acessíveis aos empreendedores gaúchos. “O objetivo é reforçar alguma ação que está em curso ou estimular a aplicação de novas ideias, evoluiremos o nosso mercado e consequentemente as micro e pequenas empresas de alimentos e bebidas”, destaca.  

Os números de uma gigante  

Realizada de 15 a 19 de outubro, na capital francesa, o Salão Internacional da Alimentação (Sial) que ocorre desde a década de 1960 este ano reuniu mais de 300.000 profissionais, em 250.000 metros quadrados divididos nos 10 pavilhões do parque de exposições de Villepinte em Paris. A retomada pós- pandemia veio forte com a presença de mais de 7.000 expositores de 125 diferentes países e o Brasil figurando em destaque entre os top 10 do pavilhão dos países. 

A estrutura do evento compôs ainda áreas exclusivas para startups, palestras de profissionais e pesquisadores renomados e um restaurante montado no evento oferece a cada dia um almoço temático exclusivo para 150 pessoas, comandado por grandes chefs de cozinha, que também dão aulas na cozinha show da feira.  

“Diferente das demais feiras do setor, os franceses têm uma grande preocupação em conectar os cozinheiros aos produtores rurais e a indústria de alimentos, trazendo na prática o olhar do campo à mesa”, explica Klafke 

Articulada pelo Sebrae RS em uma iniciativa realizada em parceria com a Fiergs e a CNI, a missão à Sial Paris 2022 contemplou empreendedores gaúchos de MPEs do setor de A&B. Integraram a comitiva as empresas: Unnita Comércio de Especiarias, Preto Indústria e Comércio de Alimentos, Maria Bolaria, Lívia Guzzo Confeitaria, Li Fabricação de Cervejas, DM2 Cervejaria, 52 Café Bistrô, EGLX, H Gastronomia, W. Smart Restaurante, MD Comércio de Alimentos, Mercado Pelado, 72 Nova York Delícias, Bella Gulla e Restaurante 62 Brooklyn (todos de Porto Alegre). Integram a lista também as empresas VIP Alimentos (Osório), W. Gramado Bar e Restaurante (Gramado), Roux Gastronomia (Canoas) e Dileta Pastelaria (Caxias do Sul). 

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