Caruru: como combater?

Entenda mais sobre o caruru e outras plantas daninhas e descubra técnicas eficazes para combater essas ameaças na lavoura.

Atualizado em: Leitura: 5 minutos
Imagem destaque do blog post do Sebrae RS sobre o Caruru nas lavouras gaúchas.

A proliferação do caruru (Amaranthus spp.) no Rio Grande do Sul preocupa agricultores, especialmente devido à espécie invasora Amaranthus hybridus, que compete intensamente com culturas agrícolas por recursos essenciais. Com um ciclo curto e rápida adaptação, essa planta impacta a produtividade e eleva os custos de manejo.

No Brasil, embora existam 20 espécies nativas do gênero Amaranthus — 11 delas encontradas no Rio Grande do Sul — é o caruru Amaranthus hybridus que gera maior preocupação entre os especialistas. 

O tamanho do problema

Com ciclo de vida curto (cerca de 80 dias), rápida taxa de crescimento e alta adaptabilidade, o caruru compete diretamente com as culturas por água, luz e nutrientes, reduzindo significativamente a produtividade. Além disso, estudos indicam que infestações severas podem provocar perdas de até 80% nas lavouras de soja, chegando a inviabilizar a colheita. (Uruagro, 2023).

Características do caruru que dificultam o controle

O controle do caruru nas lavouras é desafiado por algumas de suas características, como:

  • Elevada capacidade de produção de sementes;
  • Desenvolvimento acelerado;
  • Extenso período de dormência das sementes no solo;
  • Dificuldade em distinguir a espécie específica de caruru nas lavouras, principalmente nas fases iniciais de crescimento, quando o manejo é mais frequente.

Resistência do caruru a herbicidas

Os primeiros registros de biotipos de caruru Amaranthus com resistência a herbicidas surgiram nos anos 1970. Desde então, foram identificadas novas áreas e diferentes padrões de resistência. Veja os casos documentados no Brasil de espécies de caruru resistentes a herbicidas, conforme a base de dados da Weed Science.

ESPÉCIE ONDE ATACA RESISTÊNCIA
A. palmeri Algodão, Milho e Soja Imazetapir, clorimurom-etílico, cloransulam-methyl. glifosato.
A. retroflexus Algodão e Soja Fomesafem, pyrithiobac-sodium e trifloxysulfuron-sodium, atrazine e prometryne
A. viridis Algodão Atrazine e prometryne
A. hibridus  Soja clorimurom-etílico, glifosato

Impacto econômico nas lavouras

A soja, responsável por 43% do VBP (Valor Bruto da Produção) no Rio Grande do Sul e que gera R$ 116 bilhões, sofre grandes impactos com a infestação de caruru Amaranthus hybridus, que reduz a produtividade além de aumentar os custos de controle devido à resistência aos herbicidas tradicionais.

Novas tecnologias de controle

O caruru (Amaranthus spp.) é uma das principais ameaças às lavouras, especialmente devido à resistência ao glifosato e aos herbicidas inibidores da enzima ALS. No entanto, para enfrentá-lo, a adoção de herbicidas pré-emergentes tem se mostrado uma solução promissora.

Um estudo da Embrapa investigou a eficácia de diferentes compostos no controle do caruru e seus possíveis impactos sobre culturas sucessoras, como o azevém, com resultados relevantes.

Principais resultados do estudo

  • Eficiência no controle do caruru: herbicidas como flumioxazina, flumioxazina + piroxasulfona e combinações de diuron + sulfentrazone destacaram-se como os mais eficazes no combate ao caruru.
  • Fitotoxicidade controlada: apesar de alguns tratamentos contra o caruru apresentarem fitotoxicidade (>10%), não houve impacto negativo na produtividade de grãos de soja.
  • Ausência de carryover no azevém: nenhum dos herbicidas testados interferiu no acúmulo de matéria seca do azevém cultivado em sucessão, garantindo segurança para a rotação de culturas.

Implicações Práticas

Os resultados sugerem que o uso de herbicidas pré-emergentes pode ser integrado ao manejo das lavouras com os seguintes benefícios no combate ao caruru:

  • Redução da competição por nutrientes: o controle eficaz do caruru diminui a competição entre plantas, favorecendo o crescimento da cultura principal.
  • Segurança para culturas sucessoras: a ausência de carryover permite a diversificação de culturas sem comprometer o rendimento.
  • Sustentabilidade no manejo: a adoção de herbicidas pré-emergentes reduz a dependência de herbicidas pós-emergentes, contribuindo para a longevidade do manejo químico.

Expansão do problema do Caruru e outras plantas daninhas

Além do Caruru Amaranthus hybridus, outras plantas daninhas resistentes e persistentes como a poaia-branca (Richardia brasiliensis) e a trapoeraba (Commelina spp.) competem diretamente com as culturas por nutrientes, sendo difíceis de controlar.

Trapoeraba


A planta produz até 1600 sementes, com dispersão aérea para novas áreas e sementes subterrâneas que prolongam a infestação. Sua germinação ocorre em temperaturas ideais, entre 18 °C e 36 °C, e ela hospeda pragas como o percevejo-marrom e o nematoide das galhas.

Apesar de não ter muita  resistência  a herbicidas , a trapoeraba, a exemplo do caruru, é de difícil controle pela sua propagação que se dá por meio de sementes aéreas e subterrâneas, se propaga por pedaços dos seus ramos e tem tolerância a alguns herbicidas. O que garante uma melhor eficiência no controle é um manejo correto. Confira algumas dicas:

  1. Aplique herbicidas em plantas pequenas: priorize o controle no estágio inicial (até 4 folhas), utilizando produtos como Glifosato (2,0 L ha-1 + 1,5 L ha-1) ou Carfentrazone (59 a 75 mL ha-1).
  2. Tecnologia de aplicação é fundamental: garante boa cobertura do alvo com volume mínimo de calda de 100 L ha-1 para aumentar a eficácia.
  3. Aproveite o efeito residual de pré-emergentes: utilize Flumioxazin (50 a 60 g ha-1) ou Sulfentrazone (até 0,5 L ha-1) para controlar o banco de sementes.
  4. Adapte o manejo à cultura: na soja, use Chlorimuron ou Glifosato em variedades RR; no milho, prefira Atrazina ou Nicosulfuron de acordo com o estágio de crescimento.

Poaia-branca


A poaia-branca, também chamada de poaia-graúda e mata-pasto, é comum em lavouras de soja e milho, cobrindo o solo infestado e sendo tolerante ao glifosato, assim como o caruru, embora sem resistência documentada no Brasil. A presença de Poaia Branca na soja já reflete em 2,6% menos rendimento da lavoura, além de ser um grande problema na colheita devido à sua expressiva massa verde.

Essa planta daninha pode ser controlada por vários herbicidas de diferentes grupos químicos familiares, mas a solução que apresentou maior eficiência é o manejo correto e época de aplicação. Veja algumas boas práticas: 

Aplique herbicidas em plantas pequenas

Realize o controle no estágio de 2 a 4 folhas, priorizando produtos como Glifosato (5,0 a 6,0 L ha-1) ou Glufosinato de Amônio (2,0 a 2,5 L ha-1) com adjuvantes.

Escolha os herbicidas adequados ao sistema

  • Pré-emergência: use Flumioxazin (50 g ha-1), Sulfentrazone (até 0,5 L ha-1) ou S-Metolachlor (1,75 a 2,0 L ha-1).
  • Pós-emergência: Saflufenacil (35 a 100 g ha-1) e 2,4 D (1,5 L ha-1) são opções eficazes.

Verifique se a cultura implantada tem seletividade aos herbicidas mencionados acima e consulte seu agrônomo responsável.

Ajuste ao cultivo e tecnologia transgênica

  • Na soja RR, use Glifosato; no sistema Xtend, associe Dicamba; e no Enlist, aplique Glufosinato de Amônio ou 2,4 D.
  • No milho safrinha, opte por Atrazina (1,5 a 3,25 L ha-1) ou Nicosulfuron (1,25 a 1,50 L ha-1), sempre verificando a tolerância dos híbridos.

Garanta eficiência na aplicação

Evite baixo volume de calda (<100 L ha-1) e use boas práticas para cobrir a planta daninha, especialmente em condições climáticas favoráveis.

 

Fontes:

AGROLINK. Poiaia Branca. Disponível em: https://www.agrolink.com.br/problemas/poaia-branca. Acesso em: 29 out. 2024.

AGROLINK. Ocorrência de caruru no RS pode causar perdas de até 80% nas colheitas. Disponível em: https://www.agrolink.com.br/noticias/invasao-do-caruru-no-rs-pode-causar-perdas-de-ate-80–nas-colheitas_495597.html.  Publicado em: 07 out. 2024. Acesso em: 29 out. 2024.

AGROBAUER. Como controlar o Caruru. Disponível em: https://www.agro.bayer.com.br/conteudos/como-controlar-caruru. Publicado em: 27 mar. 2023. Acesso em: 29 out. 2024.

LAMEGO, Fabiane Pinto. Caruru resistente a herbicidas: opções para compor o manejo integrado. Revista Cultivar. Publicado em: 10 jul. 2024. Acesso em: 29 out. 2024.

AEGRO. Guia para o controle eficiente da poaia-branca. Henrique Fabrício Placido. Atualizado em 22 de maio de 2023. Disponível em: https://blog.aegro.com.br/poaia-branca/. Acesso em: 21 nov. 2024.

BASTIANI, Marlon Ouriques; OLIVEIRA, Marcelo Lima de; POLINO, Ricardo do Couto; MACHADO, Ygor Mota Soca; CASAROTTO, Gabriele; COPPETTI, Felipe Eickhoff; LAMEGO, Fabiane Pinto. Eficácia de herbicidas pré-emergentes no controle de caruru resistente ao glifosato e efeito carryover sobre azevém em sucessão. Três Tentos Agroindustrial S/A, Santa Bárbara do Sul, RS; Embrapa Pecuária Sul, Bagé, RS. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1152238/1/2022-Anais-cbcpd-5.pdf. Acesso em: 21 nov. 2024.

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Conteúdo escrito por:

Sebrae
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