Mais atividade econômica até agora, e no futuro?
O 2° trimestre trouxe resultados econômicos inesperados e, a partir deles, já podemos projetar os próximos meses.
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Estamos no fim do 3° trimestre de 2022. Logo vamos ver os sinais de que o ano está terminando: as lojas já vão estar enfeitadas para o Natal, as casas que têm crianças vão começar a ouvir os pedidos para o Papai Noel e aquela ansiedade de ir pra praia, pelo menos no fim de semana, já vai ser sentida. Começamos a olhar para nós mesmos e a pensar quanto daquilo que projetamos se realizou ou não durante o ano que finda. A economia brasileira, por sua vez, vai terminar bem diferente do que se imaginava no início do ano, pelo menos no que se refere à atividade econômica. A expectativa de crescimento nos primeiros meses de 2022 era de 0,5%, com algumas assessorias econômicas tendo até previsões negativas. Haviam razões bastante razoáveis para o pessimismo. No mundo, a Ômicron varria o Hemisfério Norte, a China insistia nas políticas de Covid-zero e uma guerra desproposital colocava mais incertezas no cenário internacional já marcado por inflação alta.
Por aqui, a inflação persistente e a resposta do Banco Central, anterior e mais forte da que a de outros países, prometia desacelerar a economia já no segundo trimestre. Mas isso não aconteceu.
Enquanto o mundo seguiu o que se previa nos modelos econométricos, dando sinais evidentes de desaceleração mês após mês, no Brasil, ao contrário, as expectativas melhoram a cada rodada de reformulação de cenários. Os dados do 2° trimestre de 2022 vieram bem mais fortes do que o esperado. A economia cresceu 1,2% na comparação com o trimestre imediatamente anterior, o que no ano resulta numa expansão de 4,89% (um PIBÃO!). É interessante notar também que, entre as atividades acompanhadas pelo IBGE, apenas 3 cresceram menos do que isso, com apenas as atividades ligadas ao setor público tendo desempenho negativo, o que mostra uma economia resiliente e dinâmica. Mas o que explica esses resultados? Será que efetivamente todos os modelos econômicos têm falhado?
Em linhas gerais, três grandes fatores justificam os números do 2° trimestre de 2022.
Em primeiro lugar, é fundamental destacar que esse período foi fortemente influenciado pela recuperação da “normalidade”. A queda praticamente total das restrições por parte das autoridades e aumento da confiança da população em relação à situação epidemiológica elevou a mobilidade, estimulando principalmente a atividade de “Outros Serviços”, que engloba bares e restaurantes e, como havia uma demanda reprimida por esse tipo de serviço, o consumo foi potencializado. Os Serviços, de maneira geral, foram os grandes responsáveis pelo bom desempenho da economia no 2º trimestre de 2022 e, como eles são uma máquina de geração de empregos, o emprego seguiu melhorando. Essa recuperação no mercado de trabalho é muito importante para explicar a performance do consumo das famílias, ainda que os salários médios continuem muito deprimidos.
Porém, se os dois fatores anteriores eram esperados, de onde veio a surpresa do crescimento? A resposta é simples: dos fortes impulsos fiscais que injetaram bilhões de reais diretamente nas mãos dos brasileiros. O 2° trimestre de 2022 contou com uma potente transferência de renda para a sociedade na forma de dois instrumentos: a antecipação do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS (R$ 56 bilhões) e o saque extraordinário do FGTS (R$ 30 bilhões), o que aumentou a massa de renda disponível da população. Além disso, a esses dois impulsos soma-se a redução do IPI que teve seu efeito iniciado no período. A surpresa via política fiscal ajuda a explicar a melhora não captada pelos modelos, mas cresce entre os economistas uma tese que só o tempo vai ajudar a validar ou não.
Que a economia tem crescido impulsionada pela retomada cíclica e por estímulos fiscais não há dúvidas, mas será que também não estamos começando a colher os frutos das reformas feitas nos últimos 6 anos? A reforma trabalhista e a lei da liberdade econômica não estariam gerando melhoras estruturais capazes de estimular nossa economia? Por enquanto são só hipóteses.
Mas se tudo isso é olhar pelo retrovisor, e daqui pra frente?
O 3° trimestre de 2022 vai repercutir mais “bondades fiscais”. A redução do ICMS sobre combustíveis, energia elétrica e telecomunicações foi a grande responsável pela variação negativa registrada no IPCA no mês de julho. Em agosto, houve nova queda provocada especialmente pela dinâmica dos combustíveis, que repercutiram a diminuição do preço do barril de petróleo globalmente e que foi repassada pela Petrobras. Apesar das variações negativas consecutivas que fizeram o IPCA ficar em apenas um dígito (algo que não se via desde agosto do ano passado), os dados de agosto de 2022 impõem um alerta ao mostrar nova aceleração dos núcleos de inflação, reforçando a aposta de que os juros provavelmente não irão estacionar nos 13,75% a.a.. Aparentemente, o esforço via política monetária de baixar os preços tem sido reduzido pela política fiscal expansionista que além das reduções de tributos contou também recentemente com um reforço de R$ 200,00 no Auxílio Brasil e os auxílios de R$ 1.000,00 para taxistas e caminhoneiros.
Nessa conjuntura, o que é possível esperar?
- O 3° trimestre deverá continuar aquecido. Estabelecimentos focados em consumidores de baixa renda deverão perceber o aumento das vendas motivados pelo aumento do Auxílio Brasil. Apesar de grande parte desses recursos se destinar para a compra de alimentos, outros segmentos também deverão se beneficiar.
- A classe média foi especialmente beneficiada pela redução de ICMS de combustíveis, energia elétrica e telecomunicações. Esse “espaço no orçamento” deverá ser direcionado especialmente para serviços, dado que ainda há demanda reprimida.
- Ao vender a prazo, cuidado na assimilação de risco. O nível de comprometimento de renda das famílias com o pagamento de dívidas permanece alto. É importante lembrar que algumas transferências de renda e reduções de tributos são apenas temporárias e não há segurança jurídica sobre a manutenção do Auxílio Brasil no atual patamar no ano que vem. Se a inflação não ceder como se espera num ambiente de juros mais altos e menor atividade, isso pode afetar muito o orçamento das famílias, levando ao aumento da inadimplência.
- O 4° trimestre de 2022 vai contar com dois acontecimentos: a eleição e a Copa. A eleição confere incerteza para decisões de investimento, mas afeta menos o consumo no curtíssimo prazo. No entanto, não há no radar novos impulsos fiscais. Então, muito planejamento na formação de estoque. A Copa, por sua vez, pode ser uma oportunidade ou um problema. Para aqueles que conseguirem engajar seus consumidores a entrar no clima, pode funcionar como um impulso de vendas. Por outro lado, os horários de jogos do Brasil deverão reduzir a mobilidade, com impacto negativo nas vendas.
Agora que você já conhece o cenário reflita sobre o seu negócio, identifique riscos e oportunidades. Faça um diagnóstico preciso da sua situação e pense cuidadosamente nos próximos passos. Lembre-se de que macrocenários mostram como a economia como um todo tende a se comportar, mas que seu negócio tem características próprias que precisam também ser levadas em consideração. Entretanto, pergunte-se se as hipóteses que você está assumindo são razoáveis. Otimismo sempre precisa ser calibrado com uma grande dose de realismo!
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