NRF Asia Pacific: o papel da cultura e o varejo como entretenimento

Cultura local, varejo como entretenimento e valor real: tendências da NRF Asia Pacific pra aplicar no teu negócio.

Atualizado em: Leitura: 6 minutos

Realizada em Singapura, a NRF Asia Pacific reuniu algumas das mentes mais influentes do setor e grandes empresas do varejo mundial para apresentar tendências que estão moldando o comportamento de consumo para os próximos anos.

Com a Ásia ocupando uma posição cada vez mais central no cenário econômico mundial, acompanhar de perto o que acontece por lá é uma oportunidade incrível para que os empreendedores entendam os próximos passos que podem aplicar nos seus negócios. É nessa região que surgem novos formatos de loja, tecnologias aplicadas com propósito e experiências que conectam com o consumidor de forma real.

A gente está presente no evento justamente pra isso: traduzir essas inovações e provocar reflexões que façam sentido na realidade dos micro e pequenos negócios brasileiros. Porque sim, muita coisa que é testada em grande escala na Ásia pode (e deve!) ser adaptada de forma criativa e acessível por aqui. 

E, claro, se tu quer aprender ainda mais e acompanhar de perto tudo o que está rolando por lá, considere seguir o nosso Instagram! Todos os dias, compartilhamos dicas práticas sobre empreendedorismo e inovação que podem ajudar na realidade do teu negócio!

Por fim, nesse terceiro conteúdo da nossa cobertura, reunimos insights inspiradores sobre tudo o que está movimentando o varejo asiático. Confere aí!

Cultura como diferencial competitivo 

Durante as palestras da NRF Asia Pacific, ficou claro que inovar nem sempre é sobre ter a tecnologia mais avançada. Inovar pode ser, e muitas vezes é, sobre valorizar o que torna o teu negócio único. Por aqui, percebemos que o ponto central das conversas está na autenticidade e cultura local como ativos poderosos, especialmente quando conectados com estratégia e consistência.

Um dos cases mais inspiradores foi o da FamilyMart, rede japonesa de lojas de conveniência com mais de 24 mil unidades na Ásia. A marca transformou produtos simples, como o “famichiki” (frango frito) e o “omosubi” (bolinho de arroz), em itens desejados, não só pelo sabor, mas pela forma como são comunicados e embalados. Tudo é pensado para exaltar o cotidiano japonês com design, música e até moda.

Um exemplo disso é a Convenience Wear, linha de roupas criada em parceria com o designer NIGO, que fez a loja de conveniência virar destino de moda urbana. A coleção já vendeu mais de 24 milhões de pares de meias, mostrando que até um produto comum pode ganhar valor com identidade e estilo.

Essa aposta na cultura como motor de diferenciação também apareceu na trajetória da Sam’s Club China, apresentada por Andrew Miles. Ao assumir a operação da rede no país, ele contrariou todas as tendências do mercado local: reduziu a variedade, apostou em lojas grandes e focou em um único público: mães de classe média com filhos pequenos. Essa clareza estratégica permitiu entregar uma experiência relevante, centrada em excelência e foco.

Mais do que isso, Andrew reforçou que a base de tudo foi uma cultura organizacional sólida, com estímulo à experimentação e tolerância ao erro. Um exemplo simbólico: ele criou até um mascote (um pinguim pulando de um iceberg) para incentivar as equipes a “mergulharem no novo”.

A inovação, nesse caso, não foi apenas tecnológica. Veio da clareza sobre o propósito da marca, da coragem de ir contra a maré e da consistência na entrega de valor. Mesmo com a criação de modelos digitais como as “clouds”, pequenas lojas logísticas que garantem entregas em até 1h, o digital foi construído a partir da essência física do negócio, e não o contrário.

O grande aprendizado desses dois cases é que tu não precisa fazer tudo o que o mercado faz. O que pode te diferenciar já tá aí: na tua história, no teu produto, na tua cultura. Inovar com propósito é saber quem tu é, pra onde quer ir e pra quem tá entregando.

Como aplicar no teu negócio:

  • Identifique o que há de único na tua história e comunique isso com orgulho.
  • Use a tua cultura local como diferencial na ambientação da loja, nomes de produtos e atendimento.
  • Reduza a complexidade: menos variedade pode significar mais foco e valor percebido.
  • Crie rituais ou elementos que reforcem a identidade do teu negócio com a equipe e o cliente.
  • Lembre: não precisa esperar o “momento certo” pra inovar. Comece pequeno, teste e evolua com consistência.

Varejo como entretenimento: experiência como estratégia

Um conceito bastante pontuado durante a NRF Asia Pacific foi o de “retailtainment”: a união entre varejo e entretenimento. O que antes era tendência, agora é praticamente regra: quem quiser manter a loja física relevante, precisa entregar algo a mais.

Durante um painel com líderes do varejo da Malásia, ficou evidente que, em países do Sudeste Asiático, shopping já não é mais apenas um lugar para comprar. Ele se tornou o novo centro social: um espaço de lazer, convivência e, acima de tudo, experiências. Famílias inteiras vão até esses espaços não só para consumir, mas para viver momentos que geram lembrança e conexão com as marcas.

Esse movimento exige uma mudança de mentalidade. O consumidor pós-pandemia é híbrido, navegando entre o físico e o digital com facilidade, mas ainda valoriza o toque, o ambiente e a surpresa. Só que agora, ele quer mais do que uma prateleira cheia de produtos. Quer espetáculo.

As ativações mais eficazes são as que engajam os sentidos: cheiros, sons, sabores e interações inesperadas. Exemplos práticos não faltam: desde oficinas de algodão-doce até shows de artistas famosos. Essas ações atraem fluxo e, mesmo que o retorno financeiro não seja imediato, criam um efeito cascata que impulsiona as vendas por semanas.

Além disso, a integração entre marca e espaço físico exige cooperação com o ambiente ao redor. Os palestrantes da NRF reforçaram que, para ter sucesso, o lojista precisa estar alinhado com o dono do espaço: não basta atrair gente para o shopping, é preciso levar para dentro da loja.

Outro ponto abordado foi o alinhamento entre marketing e financeiro. Ativações sensoriais custam tempo e dinheiro, e muitas vezes não entregam ROI imediato. Mas, com planejamento conjunto e objetivos bem definidos, é possível mostrar o valor dessas ações, tanto em engajamento quanto em conversão.

E, claro, o digital não pode ficar de fora. Interações gamificadas, pop-ups criativos e conteúdos feitos por influenciadores (inclusive clientes reais) ajudam a prolongar o impacto das experiências físicas no ambiente online.

Como aplicar no teu negócio:

  • Crie pequenas experiências no ponto de venda: uma degustação, um quiz, uma trilha sonora temática.
  • Faça parcerias com espaços vizinhos, feiras ou artistas locais pra gerar movimento e visibilidade.
  • Use as redes sociais pra mostrar os bastidores e atrair público pro espaço físico.
  • Planeje ativações simples, mas com foco em encantamento: o que pode surpreender teu cliente de forma leve e criativa?
  • Mostre o valor dessas ações com fotos, engajamento e comentários: isso também é retorno.

Valor é o novo luxo: o que realmente importa para o cliente

Entre tantas conversas sobre inovação, dados e tecnologia, um entendimento se torna primordial: não é o produto mais caro ou o mais moderno que conquista o cliente, é aquele que entrega valor real.

E aqui, valor não significa preço baixo. Valor é experiência, propósito, autenticidade e conexão. E isso se confirma quando analisamos dados.

Em uma das palestras, David Mann, economista-chefe da Mastercard Ásia-Pacífico, trouxe dados que explicaram esse cenário. Com a inflação desacelerando e os juros em queda em vários países da região, os consumidores estão voltando a gastar. Mas gastam diferente. Hoje, o foco não está em acumular bens, mas em viver experiências.

Entre os consumidores com maior poder de compra, o que mais cresce são os gastos com viagens, alimentação fora de casa, eventos, bem-estar e cultura pop. O fast food ganha espaço até entre os ricos, mostrando que mesmo quem pode gastar mais está mais atento ao valor percebido.

No Brasil, isso abre uma janela de oportunidade pro pequeno varejo. Afinal, tu não precisa competir com preço, tu pode competir com significado. O cliente de hoje valoriza marcas que são claras no que entregam, coerentes no discurso e verdadeiras na forma de se relacionar.

Um bom exemplo vem da FamilyMart, que mencionamos antes. Ela investiu em mídia digital dentro das lojas, playlists, campanhas customizadas e ações criativas que aproximam a marca da geração Z e Alpha. O resultado? Engajamento altíssimo.

Outro case que reforça essa ideia é o da GOLDEN ABC, grupo filipino de moda que transformou uma pequena fábrica em uma potência de marcas. A CEO, Alice Liu, contou como a empresa se manteve firme mesmo diante de crises como pandemia e instabilidade econômica: eles criaram uma estrutura ágil, com conteúdo próprio, cultura interna viva e compromisso real com o impacto.

A lição é clara: valor se constrói no detalhe. É a entrega que vai além do produto. É a forma como tu atende, comunica, te posiciona. Valor também é mostrar que tu entende teu cliente, que escuta e responde com agilidade, simplicidade e cuidado.

Como aplicar no teu negócio:

  • Foque no valor percebido: o que faz teu cliente lembrar de ti? O que ele leva além da compra?
  • Crie experiências acessíveis: uma playlist exclusiva, um atendimento mais humano ou uma comunicação que emociona.
  • Dê voz ao teu cliente: use feedbacks reais pra melhorar a jornada de compra.
  • Mostre propósito: compartilhe tua história, valores e impacto local. Isso gera conexão verdadeira.
  • Não espere o cenário perfeito:  dá pra inovar mesmo em momentos difíceis. O que importa é ter clareza de propósito e coragem pra começar.

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Conteúdo escrito por:

Sebrae
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